
A greve dos professores da rede municipal e estadual de Educação completa nove dias com uma adesão crescente da categoria. Ontem, 85% dos servidores do Estado haviam suspendido as aulas, 90% do Município e 80% paralisaram nos Centros Municipais de Educação Infantil (Cemures). Os dados fornecidos pelo Sindicato dos Trabalhadores em Educação do RN (Sinte/RN) se referem à capital e ao interior.Mesmo assim, o secretário da Educação do Estado, Rui Pereira, afirma que o Governo ofereceu o que podia aos professores, e acrescentou que a crise econômica vem afetando a arrecadação nas três esferas de poder. No final da manhã de ontem ele se reuniu com a governadora Wilma de Faria para apresentar oficialmente a posição dos professores de continuar a greve.“A arrecadação do Governo Federal vem caindo desde janeiro, e interferiu nos repasses a estados e municípios. Deixamos de receber R$39 milhões pelo Fundo de Participação do Estado (FPE) somando janeiro e fevereiro”, declarou ontem o secretário. “A folha de pagamento da Educação no RN fechou em R$51 milhões em fevereiro, enquanto recebemos do FPE R$41 milhões no mês passado”, calcula. Rui explica que o decréscimo resultou da isenção do Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) na compra de carros novos, diminuição de 50% dos royalties e, consequentemente, repasse menor ao Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) pelo Governo Federal. Outro argumento do Governo do Estado é que os professores vem recebendo a devida atenção desde a primeira gestão da governadora Wilma de Faria. Pela tabela de reajustes a partir de 2003, os números apontariam um incremento de 300% nos cinco anos que passaram.
Salários: Naquela época, segundo o secretário, o professor de nível médio recebia R$ 240 em início de carreira, e hoje esse valor é de R$681. O professor com licenciatura plena tinha inicial de R$293,14 em 2003 e recebe hoje, no mínimo, R$954. Os mestres e doutores, por sua vez, recebiam R$477 e R$777, respectivamente, e hoje começam com R$1.054 e R$1.426, cada. “Queremos resolver e não mascarar o problema. Nosso foco é o aluno, que fica sem opção”, completou. A proposta mais recente do Governo incrementa R$ 63 milhões na folha de pagamento a partir de abril próximo até dezembro de 2010, uma média de R$2,81 milhões a mais por mês. Com essa resposta, o Sinte/RN decidiu segunda-feira passada manter a greve que iniciou em 02 de março, e marcou nova assembleia para terça-feira (17). “Os professores que ainda não aderiram à paralisação estão perdendo tempo em sala de aula, porque nem todos os alunos comparecem à escola”, declarou a coordenadora do Sinte/RN, Fátima Cardoso. Ela rebate a afirmação do secretário Elias Nunes de que a crise afetou a Prefeitura de Natal. “Falta transparência com a categoria. A equipe de Micarla conheceu nosso pleito em novembro, não pode dizer que faltam recursos”. A sindicalista voltou a afirmar que os professores buscam implantar o piso único de R$ 950 como vencimento, e não como gratificação por tempo de serviço. A reportagem não conseguiu falar com o secretário municipal de Educação nem com a assessoria de imprensa. Os professores municipais reivindicam um reajuste salarial de 34%, e o Município ofereceu 12%, mas desse total, 5% foi concedido na gestão anterior. Vestibulandos se sentem prejudicadosNa escola estadual Padre Miguelinho, Alecrim, um grupo de alunas do terceiro ano do Ensino Médio aguardava a professora de português ontem de manhã. Entre elas estava Jeany Costa, moradora da zona Norte, que pretende fazer vestibular para Psicologia ou Gastronomia. “Tem gente que iniciou os estudos nas férias, e agora fica sem aula. Semana passada os professores de Português, Matemática e Educação Física deram aula, depois não vieram mais. Os outros nem conhecemos ainda, a [professora] de português disse que vinha hoje”, comentou. De acordo com o diretor Getúlio Soares, a Instituição tem 1.800 alunos, e todos os docentes aderiram à mobilização a partir de sexta-feira passada. Na Escola Estadual Felizardo Moura, bairro Quintas, apenas os professores da manhã suspenderam as aulas. “À tarde não fechamos turmas, e à noite funcionamos normal”, disse a diretora Margareth Martins. Na rede municipal a situação está parecida. “Só duas turmas de manhã e duas à tarde tem aulas. Mesmo assim, a maioria desses alunos faltam porque os irmãos mais velhos que estudam aqui não estão vindo”, diz o professor de Educação Física Antônio Costa. “Os alunos estão conscientes de nossa luta e nos apoiam. Os professores que continuam a dar aula deveriam aderir à causa, porque não podem avançar o conteúdo com poucos alunos em sala”, completa.