Filhos e concursos. Por que não? A gravidez é considerada um momento único na vida de uma mulher, mas a luta por estabilidade financeira pode fazer com que a preparação para um concurso público cruze esse momento. Incompatível? A jornalista Nicole Hévila, 23, é mãe de Gabriel, de dois anos de idade. Ela engravidou aos 21 anos, no final da faculdade. Sem pretensões de seguir a carreira, ela conta que passado o choque da gravidez inesperada e o nascimento do filho, optou pelos concursos públicos quando Gabriel completou seis meses de idade. "Quero proporcionar a ele o mesmo padrão de vida que meus pais me deram ou mais, se possível; por isso o setor público, que pode me proporcionar estabilidade financeira e tranquilidade para estar mais presente no dia a dia dele".
Nicole relata que os primeiros seis meses de estudo foram uma dura adaptação. "Eu ia assistir as aulas de corpo presente, porque o meu pensamento estava em casa, no meu filho. Não estudei realmente até ele completar um ano". Por várias vezes ela saiu do cursinho correndo para amamentar o filho. Foi quando ela decidiu quebrar um pouco o forte vínculo com Gabriel e se dedicar aos estudos. Uma das medidas foi parar de dar de mamar. "Embora os pediatras estimulem a amamentação até os dois anos, avaliamos que já podíamos passar dessa fase". Apesar dos dois anos, Gabriel aparenta quatro, dado seu tamanho. Nossa personagem afirma que uma mãe concurseira nunca terá o mesmo ritmo de estudo que uma candidata sem filhos. "Por mais que eu passe uma tarde inteira estudando, sempre terei que dar atenção a Gabriel. São várias interrupções ao longo do estudo. O ritmo fica descompassado". Entretanto, ela conseguiu se adaptar à situação. "Antes eu pensava que tinha que ter toda uma preparação para estudar, mas agora consigo fazer isso sem problemas enquanto Gabriel está assistindo um desenho ao meu lado". Em sintonia com o filho, mas atenta aos livros.UniãoO assunto maternidade é recorrente, mesmo no cursinho. "Houve um boom dos concursos e as mães não ficaram de fora disso". No cursinho, Nicole fez amizade com outras mães e estudam juntas. "Compreendemos as interrupções com os filhos e conseguimos estudar bem. Se fosse com alguém que não tivesse filhos, ela iria achar que o estudo é sempre improdutivo". Atualmente, Nicole se dedica aos concursos mais difíceis, na área de tribunais e fiscal. "Os concursos de tribunais têm uma concorrência mais acirrada. O número de candidatos é maior e as provas mais fáceis. Estou focando na área fiscal, no concurso da Receita Federal, porque quem sabe realmente do conteúdo passa". A aproximação com o universo jurídico a deixou tentada a cursar Direito no futuro.Hoje ela tenta manter um nível de estudo que não a afaste da concorrência, mas que também não a afaste do filho. Uma das consequências desse objetivo é que ela tenta render ao máximo enquanto está dentro do cursinho. "Quando estou lá procuro deixar a mãe em casa". Nem sempre dá. Quando o filho adoece, troca mensagens pelo celular para saber como ele está. Ir para a aula é o piormomento. "Antes eu tinha que sair escondida dele, agora já me despeço, mas ele sempre insiste para eu não sair". A ausência de casa é o grande ponto negativo. "Vida de concurseiro é de segunda a segunda, mas preservo as tardes de domingo para ele. É muito ruim não poder participar de algumas etapas da vida dele".